sexta-feira, 31 de agosto de 2007

o pogo da terceira idade

meu coturno virou pantufa
a indumentária negra, de pelúcia
o fio do último moicano
dando adeus à nuca
rabo de galo agora é canja
o câncer da sociedade é meu
ataques ao sistema tísico
o Sex Pistols há muito me esqueceu
mas ainda pogo como antes,
devagarinho, tocando o foda-se
ufa! sem futuro eternamente punk

edilson del grossi, édson de vulcanis & marcio goedert

drama de copos

já fui feliz um dia
sem perceber que você fingia
quando dizia que me amava
à noite eu acordava e trabalhava
enquanto com outro você dormia
um dia cheguei mais cedo em casa
doente, febril e com tremores
em nosso quarto encontrei vocês dois mandando brasa
sem vergonha, sem amor e sem pudores
fui ao bar em nosso bairro encher a cara
pensando com a minha vida acabar
mas lembrei o que disse o bom Jesus
o sofrimento alivia minha cruz
e assim vou investindo em meu destino
abandonando o papel de sofredor
vou andando pelas ruas da cidade
a procura de um amor de verdade

edilson de grossi, édson de vulcanis & antonio thadeu
wojciechowski

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

À noite divago, doutor.
(aos marinheiros do submarino Kursk)

nossos marinheiros estão pedindo água
vivem os infernos no fundo do mar
a lucidez se perde nas trevas
garçom, traga mais uma garrafa de oxigênio
estou seco para afogar as mágoas
será que emergiremos apenas para sermos enterrados
ou cremados e novamente jogados ao mar
assistindo nossas cinzas irem por água abaixo
será que nós paus d’água iremos nos salvar
vamos pedir aos céus que voltemos à terra
e que a verdade venha à tona

ubiratan gonçalves de oliveira, édson de vulcanis & antonio thadeu wojciechowski

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

ao lindo johnson

eu era um homem muito bonito
eu era charmoso
eu era lindo
eu era maravilhoso
eu era demais
eles me chamavam de alain delon
mas hoje de longe, me chamam de jason
me taxam de jason
me pegaram pra jason
me mostre o seu coração de monstro
e eu mostro os pêlos da mão:
seus pesadelos mais sinceros se realizarão

édson de vulcanis, marcos prado e marcio goedert

domingo, 19 de agosto de 2007

crowley´s home

cresce capim no meu carpet
as cortinas escorrem pela janela
os rodapés sobem pelas paredes
o sofá é tragado pelo piso movediço
- outono dos lustres: caem lâmpadas
a estante me hipnotizou e está em posição de ataque
a banheira prepara o bote
a porta da cozinha me mastiga o estômago
a mesa engatinha pelo corredor
a cadeira saltou com os quatro pés no meu peito
sangue jorra pelas tomadas
os quadros fogem da realidade
saio voando pela varanda

édson de vulcanis & marcos prado
saudades da lancheira

onde andam vocês, bolachas maria?
amiguinhos toddys
cream crackers piraquê
por que me abandonaram?
venham, duchens
voltem, zequinhas
bidu-cola, crush e mirinda
apareçam antes que eu morra
pela boca cheia de formiga

édson de vulcanis & marcos prado