terça-feira, 27 de fevereiro de 2007


a canção do camelo

desse deserto conheço cada grão de areia
à noite me segue sempre a mesma estrela
você é meu oásis e minha tâmara
rara como brisa em flor de âmbar

estou vivo dentro de uma natureza morta
não reconheço minhas próprias pegadas
nem a impressão de minhas passadas passadas
atalhos que me trarão de volta

do alto, você chamusca o chão que eu piso
minha sombra é uma nuvem de gafanhotos
por esse mar arenoso eu deslizo

a sede dos meus cantis rotos
bebe a areia que virou vidro
e eu blatero ao sol meus perdigotos!

édson de vulcanis & marcos prado

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007


no fim da picada
(agora que drummond virou pó)

no fim da picada tinha um traficante
tinha um traficante no fim da picada
tinha um traficante
no fim da picada tinha um traficante

nunca me esquecerei das carreiras, caminhos
e da vista de minhas pupilas tão dilatadas

nunca esquecerei que no fim da picada
tinha um traficante
tinha um traficante no fim da picada
no fim da picada tinha um traficante

édson de vulcanis & marcos prado

anjo da morte

a morte é o último mistério da vida
quando você morre e não esquece de deitar
vira uma forma nebulosa na subida
que vive suspensa em qualquer lugar

além-túmulo, existirá vida possível?
zumbem como moscas respostas amorfas
tem muita gente que ainda crê no incrível
dormem acordadas, sonham consigo, levantam mortas

assombrado de estar vivo
a morte é um estado de espírito
sou o ser que quer ser redivivo
sozinho, morto, morto, morto, não consigo

édson de vulcanis & marcos prado

domingo, 25 de fevereiro de 2007


dedos cruzados

se você quer ser mal humorada
cafajestica, cretina, falsa
dissimulada, pernóstica, reacionária, infeliz
de uma figa que eu fiz
pra me livrar de você
se você quer ser, pode ser
levanto teu astral estrela decadente
não leve a mal te querer também

antonio thadeu wojciechowski, edilson de grossi e édson de vulcanis